terça-feira, 6 de janeiro de 2009


Pedes-me palavras

Podia dizer-te
Que o meu pranto é mar.
Foi dito!
Mas o mar, olhamos, admiramos
Não nasce dentro de mim!
Podia dizer-te
Que a minha solidão
É um quarto escuro e frio
Ou uma torre alta e inacessível.
Foi dito!
Mas o quarto tem uma porta
A torre uma escada
E eu não tenho escada ou porta
Para me evadir do que sinto
Para fugir do que sou.
Podia dizer-te que a revolta
É como a tempestade.
Foi dito!
Mas nenhuma tempestade ruge
Ensurdece ou derruba
Como este grito calado
Esta dor, este medo,
Esta revolta que me consome
Devorando o que resta de mim.
Podia dizer-te
Que o desejo é um vulcão.
Foi dito!
Mas vulcão algum faz tremer, ter fome
Arder a pele, doer o corpo
Ou... sonhar.
Podia dizer-te
Que o amor é como o sol, a lua,
O mar, a tempestade, o vulcão.
Foi dito!
Pedes-me palavras
Mas nenhuma palavra
Descreve o teu nome.
E o teu nome sim
Dito baixinho é amor.
Todas as palavras foram ditas.

Pedes-me palavras.


(Encandescente)


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