quarta-feira, 3 de junho de 2009


Lago Niassa

Era um lago um lago imenso
Um mar um mar a primeira
Vez que eu via o mar

Recordo o som entre redondo
E ensurdecedor das vagas
(Autênticas) rebentando
Na praia Recordo ainda
Recordo também a luz
Aquele sol vertical
Caindo caindo caindo
Pairando deixando em nós
A sensação de existirmos
Adormecidos despertos
Num mar morto mar vivíssimo
De calor calor calor

Metangula eis a terra
O nome do posto (era isto
Em 33 mais ou menos -
Lembras-te irmã mais velha?)
Onde eu fui passar um mês
Paradisíaco à beira
Do lago Niassa onde vi
Onde tive a vez primeira
A sensação formidável
Da virginal maravilha
Do mar do mar que é meu pai
Minha mãe meu deus supremo
Meu filho irmão e amante
Minha pátria verdadeira
E meu túmulo se os deuses
Me renderem tão sublime
Prova do seu amor

(Alberto de Lacerda, in Exílio)

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