sexta-feira, 25 de dezembro de 2009


Pai Natal

Gorducho como és,
Com esse ventre obeso,
Como podes passar nas chaminés
Sem ficar preso?!

E como podes inda, sem perigo,
Com essas botas grossas, quando avanças,
Não perturbar o sono das crianças
Que adormeceram a sonhar contigo?!

Como podes passar,
Com essas barbas longas e nevadas,
Sem medo de assustar
Crianças que se encontram acordadas?!

Eu sei!
Eu digo-te a razão,
Embora se me parta o coração!

É que tu, risonho Pai-Natal,
Só entras em palácios de cristal,
Por chaminés de mármore e jade
Onde o rotundo ventre
Passe, deslize e entre,
Libérrimo, em perfeito à vontade!

Como podem as botas vigorosas
Rangerem um momento,
Se alcatifas caras, preciosas,
Se espreguiçam por todo o pavimento!

Nem podes assustar
Crianças que se encontram acordadas,
Porque tens o cuidado de tirar
Essas revoltas barbas já nevadas!

E, assim, é,
Risonho Pai-Natal de riso e gestos ledos,
Vais aos palácios ricos, por teu pé,
Vazar o grande saco de brinquedos!

Antes fosses, risonho Pai-Natal,
Na noite friorenta,
De portal em portal,
De tormenta em tormenta!

E descesses aos lares pobrezinhos
Onde há doridas mães talvez chorando,
Ao seio acalentando
Os pálidos filhinhos!

Ou fosses campo em fora, em longas caminhadas,
A descobrir crianças sem abrigo,
Adormecidas, nuas, regeladas,
E ainda a sonhar contigo!

Mas não são esses, não, os teus caminhos,
Tu que vestes veludos e arminhos!

Quando Jesus nasceu,
No rigoroso frio do Inverno,
Nu e natural,
Sem outra benção que o olhar materno,
Sem mais calor que um bafo irracional.
Onde é que estavas tu, oh! Pai-Natal?!
Por onde andavas tu, oh! Pai-Natal?!

Sei bem onde é que estavas!
Sei bem por onde andavas!

Andavas, entre risos e folguedos,
Já com as barbas brancas e os bigodes,
A despejar saco de brinquedos,
-Na chaminé de Herodes!

(Angelino da Silva Jardim)

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