terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O RETORNO DE UM BEIJO

Deixo que as pétalas das rosas me beijem a face, que o cheiro
da terra lavrada me leve ao lugar onde mantenho o pensamento
fértil de sonhos.
Deixo que me iluda quando vejo uma águia voar, uma criança
sorrir.

Mas é quando olho o Homem que vejo os meus sonhos guardados
num quarto escuro e vazio... fechados, empestados de
bolor agoniante.

Trago a beleza da vida em palavras, encho a folha branca,
vazia, de amores, oceanos, de luares, de sonhos...
Mancho as letras com as lágrimas da realidade, rasgo folhas
de papel e choro... caem-me as palavras dos olhos... as frases
enrolam-se na garganta... a angustia de viver chega a ser
inquietante... o poema faz-se no peito.
Olho para a imensidão do mar e vejo corpos desalinhados,
desmembrados, queimados.
Olho para a fonte da saudade e vejo lágrimas de crianças a
jorrarem na esperança de encontrar um abraço quente... que
não vem.

Ergo-me do cansaço de quem sou, componho-me e vejo-me
sorrir esperando o retorno de um beijo... meu alimento, minha
sobrevivência.
Tudo o resto já não importa.

(Vanda Paz, in Brisas do Mar)

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