sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O Velho velho

Em pontão de cais
O velho espreita o mar
Cara ao vento, cabelo ralo
De cor salgada, olhos de profundidade
Da morte que não dos peixes
Espeta o anzol do olhar
No horizonte de mar mal agradecido
Nesga de pão duro
Que os dentes já não mastigam
Mas que a mesa precisa
Vazia de pão, cheia de fomes
Cansadas de o ser, de crianças
Velhas como o velho
Que já nasceu velho.

E debruça mais um pouco
O olhar, o velho em busca
Que não de peixes
Fétidos e fedidos
Cheiro nojento que respira pelos ossos
Busca pão no anseio do milagre
Que aprendeu quando era criança velha,
Filho de um velho que nasceu velho

(José Alberto Valente)

Sem comentários:

Enviar um comentário