quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A PASSAGM DO TEMPO

Nas casas vazias não ouço o bater dos relógios
de madeira pendurados nas paredes, com o pêndulo
a oscilar à passagem dos segundos. De resto,
quem poderá ouvir esse bater dos relógios
nas casas vazias a não ser as sombra que as
habitam e cujos pulsos batem, sem que
ninguém os ouça, ao ritmo do bater dos relógios
nas paredes de gesso e de estuque? No entanto,
levo ao ouvido o peito das sombras para que,
através do bater dos seus corações desfeitos
pela noite das casas vazias, me chegue à alma
o bater dos relógios nas paredes vazias. Então,
o tempo começa a passar mais depressa para
que as casas deixem de estar vazias; e o que eu quero
é que a casa vazia se encha com os teus passos,
ao meu emcontro, e um outro relógio comece a bater,
como o coração das sombras que havemos de ser,
quando nos encontrarmos para romper o silêncio
da casa que deixará de estar vazia, com a tua
luz a expulsar as sombras e a tua voz a fazer
esquecer o bater dos segundos do relógio de madeira.

(Nuno Júdice)

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