Quando te beijo nos olhos...
... não beijo as aves ocultas
que vão buscar as lágrimas
ao teu coração.
Nem os ninhos forrados de espelhos negros
para prolongarem a solidão.
Não beijo as ruínas da sede,
os tapetes do frio,
as janelas do sonho debruçado,
as moedas atiradas aos pobres,
o algodão em rama nas feridas.
Nem os teus subterrâneos de ternura
com luas escondidas.
Beijo apenas a minha imagem
de narciso covarde
que desceu aos teus olhos
para poder amar-me.
(José Gomes Ferreira, in Poesia IV)
Onde as palavras dos outros se reunem às nossas num espaço de silêncio e reflexão
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
sábado, 18 de dezembro de 2010
para voltar ao princípio do mundo
sei de uma mulher
que penteava os cabelos ao sol
porque tinha no pensamento uma flor
sei que os lavava ao luar
porque tinha no coração uma corola
para voltar ao princípio do mundo
com a boca mordia o ar
e prendia os vestidos ao vento
era uma mulher sentada numa pedra
coroada por um lírio salgado na fronte
um dia
cortou os cabelos
atirando-os um a um ao mar
e disse: tece-me
e o mar inclinou-se para dentro
para tecer
(Maria Azenha)
sei de uma mulher
que penteava os cabelos ao sol
porque tinha no pensamento uma flor
sei que os lavava ao luar
porque tinha no coração uma corola
para voltar ao princípio do mundo
com a boca mordia o ar
e prendia os vestidos ao vento
era uma mulher sentada numa pedra
coroada por um lírio salgado na fronte
um dia
cortou os cabelos
atirando-os um a um ao mar
e disse: tece-me
e o mar inclinou-se para dentro
para tecer
(Maria Azenha)
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Poema de Natal
Para isso fomos feitos
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos...
Por isso temos braços longos
para os adeuses,
uns para colher o que foi dado
dedos pra cavar a terra
Assim será a nossa vida
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
um caminho...
entre dois túmulos
Por isso precisamos velar...
falar baixo...
pisar leve.
Ver a noite dormir em silêncio
Não há muito o que dizer
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor.
Uma prece por quem se vai.
Mas que essa hora não esqueça
e por ela os nossos corações
se deixem graves e simples
pois para isso fomos feitos
Para a esperança do milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte
De repente nunca mais esperaremos.
Hoje a noite é jovem
Da morte apenas nascemos...
Imensamente.
(Vinicius de Moraes)
Para isso fomos feitos
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos...
Por isso temos braços longos
para os adeuses,
uns para colher o que foi dado
dedos pra cavar a terra
Assim será a nossa vida
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
um caminho...
entre dois túmulos
Por isso precisamos velar...
falar baixo...
pisar leve.
Ver a noite dormir em silêncio
Não há muito o que dizer
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor.
Uma prece por quem se vai.
Mas que essa hora não esqueça
e por ela os nossos corações
se deixem graves e simples
pois para isso fomos feitos
Para a esperança do milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte
De repente nunca mais esperaremos.
Hoje a noite é jovem
Da morte apenas nascemos...
Imensamente.
(Vinicius de Moraes)
domingo, 12 de dezembro de 2010
Se eu quiser
Se quiser caminhar sobre as águas
Caminho!
Nem que tenha de lutar contra ventos e tempestades
Dobrar Cabos Sem Esperança e vontades
Vencer um qualquer Adamastor.
Se quiser voar como as aves
Eu voo!
Mesmo desafiando leis e gravidade
Serei asas, voo e liberdade
Quebrarei amarras do destino plano e raso
E nada impedirá céu e voo.
Se quiser como um verme rastejar
Morder dos outros passos e terra
Como um verme rastejarei!
Porque minha
É a minha vontade
E minha a liberdade
E se chão quiser ser
Pó, terra e chão serei!
(Encandescente)
Se quiser caminhar sobre as águas
Caminho!
Nem que tenha de lutar contra ventos e tempestades
Dobrar Cabos Sem Esperança e vontades
Vencer um qualquer Adamastor.
Se quiser voar como as aves
Eu voo!
Mesmo desafiando leis e gravidade
Serei asas, voo e liberdade
Quebrarei amarras do destino plano e raso
E nada impedirá céu e voo.
Se quiser como um verme rastejar
Morder dos outros passos e terra
Como um verme rastejarei!
Porque minha
É a minha vontade
E minha a liberdade
E se chão quiser ser
Pó, terra e chão serei!
(Encandescente)
domingo, 5 de dezembro de 2010
POR FAVOR NÃO ME FILTREM AS NUVENS
Por favor não me filtrem as nuvens,
Que eu quero passear à chuva
E atravessar a tempestade cantando!
Por favor não levem
As tempestades para vossas casas!
Deixem-me ao menos louco,
Despido de preconceitos abstractos,
Com meu corpo molhado,
Sem trapos,
A minha face lambida de água pura.
Olhem! Meus cabelos molhados,
Pingando ao som da chuva,
E esta denúncia de homem…
Encolhida num cacho de uva…
Por favor não me filtrem as nuvens!
Deixem-me, agora, só com a chuva!
Como um amante febril
Percorrendo de beijos
O ermo da sua loucura,
Como o quente da água pura
Que escorre do meu corpo,
Vaporizando liberdade.
(Rogério Martins Simões)
Por favor não me filtrem as nuvens,
Que eu quero passear à chuva
E atravessar a tempestade cantando!
Por favor não levem
As tempestades para vossas casas!
Deixem-me ao menos louco,
Despido de preconceitos abstractos,
Com meu corpo molhado,
Sem trapos,
A minha face lambida de água pura.
Olhem! Meus cabelos molhados,
Pingando ao som da chuva,
E esta denúncia de homem…
Encolhida num cacho de uva…
Por favor não me filtrem as nuvens!
Deixem-me, agora, só com a chuva!
Como um amante febril
Percorrendo de beijos
O ermo da sua loucura,
Como o quente da água pura
Que escorre do meu corpo,
Vaporizando liberdade.
(Rogério Martins Simões)
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