domingo, 10 de julho de 2011

Fazes-me falta

À beira de mim,
reduto do que sou
anelo de existência,
ajoelho-me no mar
e nele entrego o meu pretérito,
dor assilábica
de todas as rezas de invernia.
Espero-te,
como quem espera o regresso dos deuses
no resgate das conchas
E sei,
porque simplesmente sei,
que é cíclica a melodia
das ondas,
enquanto aguardo no cais
o silêncio manso
da tua chegada.
Mesmo que errante no ocaso
será a surpresa da tua voz
que dançará na minha pele,
como um hino perfumado
tremulando na alma
até à colheita,
do doce manto de tulipas brancas
que há muito crescem,
serenas,
à tona d'água,
crendo no beijo colorido
dos teus olhos.
Só elas sabem
o quanto me fazes falta.

(Maria João de Carvalho Martins, in "Do outro lado do espelho")

2 comentários:

  1. Um poema de oração e contemplação de excelente gosto. Um abraço, Yayá.

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  2. Assim, como uma surpresa, um ramo de flores a brilharem de sol ou um hino perfumado...

    Vê-lo aqui publicado, neste espaço de escolhas e partilha é, para mim, uma enorme honra!!

    Obrigada, Odete
    simplesmente obrigada!!

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