quarta-feira, 10 de agosto de 2011

a fome é tanta

a fome é tanta,
que os olhos lhe caiem na sopa
o frio é tanto,
que a manta rota lhe parece um embuste
a dor é tanta,
que o sangue lhe verte das órbitas vazias
o abandono é tanto,
que se resigna à monotonia das insónias,
ouvindo noites a fio o barulho do relógio da torre,
marcando implacavelmente,
os segundos de uma morte em vida
a raiva é tanta que grita:
que sabeis vós poetas de circunstância?
que tanto cantais a vossa dor,
uma dor tantas vezes mentirosa

(António Paiva)

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