sábado, 20 de agosto de 2011

Singular modo de amar

No contorno fino dos teus lábios
adivinho-te em palavras
protegidas de outros verbos
nuas, frias, lassas
à espera que das minhas, nasçam
os milagres que te confortam.

Mas ouves leves cicios apenas,
da alma que um dia cantou ao vento
em fogo lento
e hoje é gélida ave sem asas
sem penas
presa à inevitabilidade do tempo.


Recuo pois, nas premissas
nas certezas que me lastimam
e concluem o que não posso dar-te.

Beijo-te apenas...
Sigilando no abismo do silêncio
este meu singular modo de amar-te.

(Maria João de Carvalho Martins, in "Do outro lado do espelho")

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