sábado, 28 de abril de 2012

Ubiquidade

Podias ter vindo hoje,
como quem chega de longe,
rompendo o silêncio da manhã
num voo de velas desfraldadas
ou num canto súbito de rouxinol
anunciando a primavera.

Podias não ter vindo hoje,
perdida numa maré de nevoeiro,
sem encontrar o caminho,
deixando-me preso à margem deserta
de um rio de águas estagnadas
como um barco sem rumo.

Podias ou não ter vindo hoje,
encher meu dia de luz ou sombra,
que não impedirias a noite de cair
nem o vento de bater nas janelas
ou que os cães latissem à lua
incapazes de compreender o futuro.

O que te queria mesmo dizer,
tivesses ou não ter vindo hoje,
é que sempre estarás dentro de mim,
mesmo nos dias em que nunca vens.


(Runa)

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O Silêncio


Sabes...
O silêncio mente
Quando esmaga a dor que sentimos,
A memória que aflora,
O amor que dói,
A tristeza que invade os poros
Todos, até às entranhas.

O silêncio mente
Quando nos obriga a ficar,
Querendo partir,
Nos força a sorrir,
Querendo chorar,
Nos inmida a fazer de conta
Que somos aqueles que aparentamos
Ser, quando somos outros,
Tão outros e tão sem igual.

O silêncio mente
Despudoradamente e sem vergonha,
Sempre que nos torna escravos
Da sua egocêntrica voracidade
E nos compele a ser
Amorfos e hermafroditas,
Em corpos ideais.

Sabes... O silêncio dói demais!...

(Paulo César, in No Chão D'Água)

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Testemunho


As vezes procuro encontrar
As mesmas sensações
Os mesmos momentos
Que em criança trazia no olhar
Encontrei ventos
Que espalham desilusões.
É a diferença da idade
Sem poder recuar
É toda a realidade
Que me faz lutar (brincar).
Hoje, o meu brinquedo
É todo o medo
De poder acabar.
Vejo o tempo, fugir
Das minhas mãos
Sem me iludir.
Continuo a caminhar
Pelo sonho que construí
Deixo, as palavras do que aprendi.

nada mais tenho...


Paulo Afonso Ramos)