terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Mar imenso

Olho para o mar,
perco o horizonte!
Mar imenso
que nos distancia,
mas não nos afasta!


Nosso amor
conhece o mar,
navega nele
todos os dias
da nossa vida!


Não haverá
naufrágio
e chegará a bonança,
as águas acalmarão,
e o meu coração,
liberto da tempestade,
esperará com esperança,
o dia
em que o mar imenso
nos aproximará,
para sempre,
para sempre, meu amor!

José Manuel Brazão

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Aqui fica a minha homenagem a Nelson Mandela.
Palavras que lhe deram força e o ajudaram a lutar pela vida...

Invictus

Dentro da noite que me rodeia
Negra como um poço de lado a lado
Agradeço aos deuses que existem
por minha alma indomável

Sob as garras cruéis das circunstâncias
eu não tremo e nem me desespero
Sob os duros golpes do acaso
Minha cabeça sangra, mas continua erguida

Mais além deste lugar de lágrimas e ira,
Jazem os horrores da sombra.
Mas a ameaça dos anos,
Me encontra e me encontrará, sem medo.

Não importa quão estreito o portão
Quão repleta de castigo a sentença,
Eu sou o senhor de meu destino
Eu sou o capitão de minha alma.

William Ernest Henley

Elegia para uma gaivota

Morreu no mar a gaivota mais esbelta,
a que morava mais alto e trespassava
de claridade as nuvens mais escuras com os olhos.

Flutuam quietas, sobre as águas, suas asas.
Água salgada, benta de tantas mortes angustiosas, aspergiu-a.
E três pás de ar pesado para sempre as viagens lhe vedaram.

Eis que deixou de ser sonho apenas sonhado. É finalmente sonho puro,
sonho que sonha finalmente, asa que dorme voos.

Cantos de pescadores, embalai-a! Versos dos poetas, embalai-a!
Brisas, peixes, marés, rumor das velas, embalai-a!

Há na manhã um gosto vago e doce de elegia, tão misteriosamente, tão insistentemente,
sua presença morta em tudo se anuncia.

Ela vai, sereninha e muito branca.
E a sua morte simples e suavíssima
é a ordem-do-dia na praia e no mar alto.

Sebastião da Gama

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Silêncio

É no silêncio que me encontro,
quando me escondo da face do mundo,
encolhido
dentro dos ossos frios do pensamento.
Lentamente, deixo cair a máscara
que me protege dos olhares furtivos
e esconde as cicatrizes acumuladas
desta ininterrupta maré de lama
que vem na enxurrada inútil dos dias,
e deixo-me levar pela corrente,
à deriva por entre os destroços.

Ninguém conhece os segredos que me habitam
nem o que pulsa neste coração ferido.
Ninguém vê o arrepio que se entranha na carne frágil
quando me debruço sobre a própria sombra.
Ninguém me vê quando choro.

Às escuras,
dentro de mim,
sigo as sombras ofegantes
que me enlaçam pela cintura,
traçando círculos de gelo
nas colinas fustigadas do meu peito.
E choro.
Levo as mãos ao rosto,
manchado,
bebendo as lágrimas perdidas
desta esponja ensopada em vinagre,
e encolho-me,
mais fundo ainda,
dentro da dor que pinto ao vento
com os ensanguentados versos
destes dedos vazios.

Pouso a caneta, por momentos,
acendo um cigarro
e recosto a cabeça.
Fecho os olhos
e continuo a chorar.
Em silêncio.

Só eu sei porquê.

Runa, "Seguindo o escoar do tempo"