terça-feira, 29 de outubro de 2013

Momentos

Há momentos em que as almas se unem
se tocam, se enlaçam, se soltam
e se abraçam sem nada dizer.
Momentos de olhares rasos de água
soltando silêncios repletos de sons
Talvez Chopin nos nocturnos ou cantatas de Bach.
Momentos brilhantes de estrelas, de luas
plasmadas no olhar. Momentos de pele
indeléveis, macios. Momentos de nuvens
que entornam uma chuva de amor infinito.
Momentos por dentro do tempo
em que as mãos se entendem, se entregam
se aquecem, se unem. Momentos de luz
de verdade, carinho, amizade e da mistura doce
de amor e saudade. Momentos que não querer partir.
De versos e prosas, de rir e chorar
momentos sem nome que nenhum poeta
consegue explicar.
Há momentos assim, que de tanto sentir,
a vida nos basta.

Olívia Santos, in "Nos teus olhos a janela do tempo"

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Um dia virá

Um dia virá
em que a minha porta
permanecerá fechada
em que não atenderei o telefone
em que não perguntarei
se querem comer alguma coisa
em que não recomendarei
que levem os casacos
porque a noite se adivinha fresca.

Só nos meus versos poderão encontrar
a minha promessa de amor eterno.

Não chorem; eu não morri
apenas me embriaguei
de luz e de silêncio.

(Rosa Lobato de Faria, in A Noite Inteira Já Não Chega Poesia)

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Era como se

Agora,
Com o peso da idade
A pesar-lhe no corpo,
Era como se
A missão, a razão fundamental
Tivesse sido sempre, na vida
A obrigação de preservar o essencial,
Para existir e não se resignar a morrer.

Agora,
Com o fardo dos anos
A pesar-lhe nos ombros,
Era como se
Lutar contra a decadência
Tivesse sido sempre, na vida
O sentido, o motivo fundamental
Para resistir e não se deixar abater.

Agora,
Com o peso da idade
A ameaçar roubar-lhe a vida,
Era como se
Esquivar-se ou lutar
Tivesse sido sempre, na vida
A história, a sua biografia autorizada
Para persistir e aceitar continuar a viver.

Miguel Almeida, in Sobre Viver ad ritmo poetae)

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Ultimos sinais


Talvez uma réstia de perfume antigo
perdure ainda na orla do teu vestido
quando sacodes os cabelos molhados
e te libertas da persistência da chuva.
Talvez o tempo não tenha apagado tudo
e nalgum lugar repouse ainda a inocência
que um dia atravessou a claridade dos dias.
Talvez a memória breve daquilo que fomos
ainda se abrigue num rumor de ventania
ou no frio amadurecido dos teus lábios
quando lentamente fechas os olhos
e escutas, no mais profundo de ti
os últimos sinais da minha respiração.

(Runa, ...Seguindo o escoar do tempo)