quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Nas lágrimas da despedida

Já não tenho palavras
as últimas morreram no verão passado.
E num funeral cheio de sinais
sinais de uma pontuação por conseguir
as palavras, no silêncio, encontraram o seu lugar.
A terra, o chão, que tanto pisei com avidez
e num cemitério desconhecido, distante dos olhares
lá estava eu com um sofrimento imaculado
a fazer o destino, numa despedida sofrida.

Tudo agora é memória
guardada no ventre da imaginação
faltam-me as palavras que escreviam a lucidez
faltam-me as outras, que escreviam esperança
faltam-me, sem que perceba, essa sensação
com que vibrava ao ler os teus passos
as tuas tormentas ou as brincadeiras perdidas
falta-me quase tudo, que tudo é o meu fim
que enterrou a alma dessa magia em desassossego.

Já não tenho palavras
roupagem do meu caminhar
agora sou, provavelmente, memória
que no tempo, aos poucos, também morrerá!

(Paulo Afonso Ramos, in "Passos espalhados pelo chão")

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