Ânsia
Não me deixem tranquilo
não me guardem sossego
eu quero a ânsia da onda
o eterno rebentar da espuma
As horas são-me escassas:
dai-me o tempo
ainda que o não mereça
que eu quero
ter outra vez
idades que nunca tive
para ser sempre
eu e a vida
nesta dança desencontrada
como se de corpos
tivéssemos trocado
para morrer vivendo
(Mia Couto)
Onde as palavras dos outros se reunem às nossas num espaço de silêncio e reflexão
quinta-feira, 29 de julho de 2010
quarta-feira, 28 de julho de 2010
terça-feira, 27 de julho de 2010
Será sempre uma vitória
Um olhar teu
aconchegado no meu regaço
será sempre um pedaço
tão belo e só meu...
Um sorriso oferecido
desse rosto eloquente
no meu olhar ferido
fomenta a minha locura ardente
do teu perfume...
da tua vontade...
de cada passo
será sempre
um gesto cadente
que afaga a minha alma
num corpo que se acalma.
Um abraço por acontecer
guardado em memória
faz nascer
uma admirável história
em que nada mais importa
em que nos basta
um cúmplice desejo
eleito.
Esta vida,
será sempre uma vitória.
(A nossa vitória!)
(Paulo Afonso Ramos)
Um olhar teu
aconchegado no meu regaço
será sempre um pedaço
tão belo e só meu...
Um sorriso oferecido
desse rosto eloquente
no meu olhar ferido
fomenta a minha locura ardente
do teu perfume...
da tua vontade...
de cada passo
será sempre
um gesto cadente
que afaga a minha alma
num corpo que se acalma.
Um abraço por acontecer
guardado em memória
faz nascer
uma admirável história
em que nada mais importa
em que nos basta
um cúmplice desejo
eleito.
Esta vida,
será sempre uma vitória.
(A nossa vitória!)
(Paulo Afonso Ramos)
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Acordar
Um dia, quando começa, parece igual aos
outros. A mesma luz que entra pela janela,
ruídos de obras e automóveis, vozes... Mas
o que nesse dia me falta é outra coisa: a tua
voz, a surpresa de cada instante que me dás,
uma luz diferente que não vem de fora, da
mesma rua e do mesmo céu, mas de dentro
de ti. Assim, o que faz a mudança do mundo
e das coisas não é o mundo nem as coisas:
somos nós, e a relação que nos prende um ao
outro - isso que, não sendo nada para fora
de nós, é tudo o que temos nesta vida.
(Nuno Júdice)
Um dia, quando começa, parece igual aos
outros. A mesma luz que entra pela janela,
ruídos de obras e automóveis, vozes... Mas
o que nesse dia me falta é outra coisa: a tua
voz, a surpresa de cada instante que me dás,
uma luz diferente que não vem de fora, da
mesma rua e do mesmo céu, mas de dentro
de ti. Assim, o que faz a mudança do mundo
e das coisas não é o mundo nem as coisas:
somos nós, e a relação que nos prende um ao
outro - isso que, não sendo nada para fora
de nós, é tudo o que temos nesta vida.
(Nuno Júdice)
terça-feira, 20 de julho de 2010
Solidão
Olho o vazio
grito o horizonte,
esqueço
quem partiu,
rompo
por entre o monte.
Nado no céu,
corro sobre o mar,
meu coração chora
por não te encontrar.
Mando nas nuvens
uma mensagem.
Um pensar...
Logo se desfazem
para não poder
te amar...
As lágrimas escorrem
na solidão
do meu sonhar.
Os sentimentos
por ti morrem,
na incerteza de
um breve olhar.
Meu corpo
escorrido
num chão
a secar...
Tudo está perdido
num poema parido
em que tudo é ilusão
breve estrela a cintilar.
(Vanda Paz)
Olho o vazio
grito o horizonte,
esqueço
quem partiu,
rompo
por entre o monte.
Nado no céu,
corro sobre o mar,
meu coração chora
por não te encontrar.
Mando nas nuvens
uma mensagem.
Um pensar...
Logo se desfazem
para não poder
te amar...
As lágrimas escorrem
na solidão
do meu sonhar.
Os sentimentos
por ti morrem,
na incerteza de
um breve olhar.
Meu corpo
escorrido
num chão
a secar...
Tudo está perdido
num poema parido
em que tudo é ilusão
breve estrela a cintilar.
(Vanda Paz)
sábado, 17 de julho de 2010
Tu dormes
Tu dormes embalado nos rochedos
E aos meus ouvidos vem falar o vento.
Escuto, busco, chamo e não respondes,
E todo o mundo se tornou fantasma.
Estou fechada, suspensa, prisioneira
Queria voltar para fora para o dia
Ressurgir, respirar, tornar a ver,
Mas todo o mundo se tornou fantasma.
E a voz do mar encheu o céu e a terra
Uma voz que está cheia e que se quebra
E nunca mais acaba.
Pássaros brancos cortam as janelas,
Anémonas cintilam nos rochedos:
Terror de estar sozinha e de escutar
Com este tempo morto entre os meus dedos.
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
Tu dormes embalado nos rochedos
E aos meus ouvidos vem falar o vento.
Escuto, busco, chamo e não respondes,
E todo o mundo se tornou fantasma.
Estou fechada, suspensa, prisioneira
Queria voltar para fora para o dia
Ressurgir, respirar, tornar a ver,
Mas todo o mundo se tornou fantasma.
E a voz do mar encheu o céu e a terra
Uma voz que está cheia e que se quebra
E nunca mais acaba.
Pássaros brancos cortam as janelas,
Anémonas cintilam nos rochedos:
Terror de estar sozinha e de escutar
Com este tempo morto entre os meus dedos.
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Pequena elegia de Setembro
Não sei como vieste,
mas deve haver um caminho
para regressar da morte.
Estás sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos pousados nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias de setembro.
Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.
(Eugénio de Andrade)
Não sei como vieste,
mas deve haver um caminho
para regressar da morte.
Estás sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos pousados nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias de setembro.
Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.
(Eugénio de Andrade)
domingo, 11 de julho de 2010
Talvez...
Talvez o instante não seja este...
Talvez não seja o modo certo...
Talvez não consiga encontrar as palavras...
Talvez persista na teimosia de existir...
Talvez pense...
E talvez encontre nas expressões
amarguradas que envolvem o sofrimento...
Ou reviva nos olhares mortiços
que fazem ouvir o grito das almas...
Ou até abrace as nuvens do silêncio
que toldam o sentir com névoa piedosa...
Talvez veja...
E seja a escora, o pêndulo, a bússola...
o caminho seguido outrora que de novo se abre...
as vagas trazendo as novas em cada maré...
os sonhos nunca sonhados ousados sonhar...
o porto seguro que aguarda para te amparar...
Talvez...
(António Castel-Branco, in Jardim de Palavras)
Talvez o instante não seja este...
Talvez não seja o modo certo...
Talvez não consiga encontrar as palavras...
Talvez persista na teimosia de existir...
Talvez pense...
E talvez encontre nas expressões
amarguradas que envolvem o sofrimento...
Ou reviva nos olhares mortiços
que fazem ouvir o grito das almas...
Ou até abrace as nuvens do silêncio
que toldam o sentir com névoa piedosa...
Talvez veja...
E seja a escora, o pêndulo, a bússola...
o caminho seguido outrora que de novo se abre...
as vagas trazendo as novas em cada maré...
os sonhos nunca sonhados ousados sonhar...
o porto seguro que aguarda para te amparar...
Talvez...
(António Castel-Branco, in Jardim de Palavras)
terça-feira, 6 de julho de 2010
Tenho a morte ao peito
A admirar-me pacientemente
Mas o meu corpo eleva-se ao tempo
E no céu, o meu olhar, desenha a esperança
Num voo do pássaro
Plenitudes do espaço azul
Que sobrevoa um mar de palavras
Abrigo das entranhas do saber
Onde só os olhos as sabem ler
(Eduardo Montepuez, in "Metamorfose do corpo")
A admirar-me pacientemente
Mas o meu corpo eleva-se ao tempo
E no céu, o meu olhar, desenha a esperança
Num voo do pássaro
Plenitudes do espaço azul
Que sobrevoa um mar de palavras
Abrigo das entranhas do saber
Onde só os olhos as sabem ler
(Eduardo Montepuez, in "Metamorfose do corpo")
domingo, 4 de julho de 2010
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