Noite
No profundo da noite mil ruídos
agridem o silêncio que resiste
num choro gárrulo num riso triste
voltam loucos os sonhos esquecidos.
Fere o negrume a luz que nos assiste
num velório de rostos contraídos.
O morto somos nós, já dissolvidos
numa existência outra onde o que existe
são as sagas dos santos feitos gnomos
metamorfoseados de repente
por alquimia atroz no pó que somos.
E no fluir das horas lentamente
desfilam séculos e nós supomos
a noite a desdobrar-se eternamente.
(Fernando Marcelino)
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