terça-feira, 11 de maio de 2010

Versos ao Mar

Ai!,
o berço da tua voz,
e esse jeito de mão que tens nas ondas,
Mar!

Quando eu cair exausto
sobre as conchas da praia e fique ali
doente e sem ninguém,
hás-de ser tu quem me trate,
quero que sejas tu a minha mãe.

Há-de embalar-me a tua voz de berço,
para que a febre me deixe sossegar;
e hás-de passar, ó Mar!
pelo meu corpo em chaga,
as tuas mãos piedosas comovidas,
para que sintas por mim as minhas dores
e eu sinto só o bálsamo nas feridas.
Como se fosses tu a minha Mãe...
como se fosses tu a minha Noiva...

E hás-de contar-me histórias velhas
de Marinheiros...
Histórias de Sereias e de Luas
que se perderam por ti...
E se a Morte vier há-de quedar,
toda encantada, a ouvir-te,
e, sem ânimo já de me levar,
sorrindo, voltará por seu caminho
(não a sentimos vir, nem ir, tão de mansinho
se passou tudo, Mar!),
voltará de mansinho,
pé ante pé, para não nos perturbar,

mas saudosa da tua voz de berço...

(Sebastião da Gama)

Sem comentários:

Enviar um comentário