quarta-feira, 17 de julho de 2013

DEIXA-TE FICAR

Deixa-te ficar. Encosta o cansaço
ao vermelho da rosa
esquecida ela também de ser botão.
Pensa na história mil vezes contada
e acrescentada e sempre a mesma
e já outra, a história.
Podes até não falar.
Passeia os olhos nas capas dos livros,
para cá, para lá, numa procura
sem tempo de achamento.
Os relógios não dizem tic-tac,
mas tu vais ouvi-lo e leve, muito leve,
a tua mão na mesa num batuque do longe,
das terras quentes que te não viveram.
Fica mais um pouco.
No vermelho da rosa aflora o negro.
No teu rosto um sorriso de lua,
a memória da prata.
Espera o piar dos mochos,
o coaxar das rãs, o cio triunfal
da vida sobre a morte.
Agora vai. A história espera
que a inventes, a contes, a acrescentes.
Que nunca o dia chegue de a saberes.

Licínia Quitério - O Sítio do Poema

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