Este sol de ouro-novo nos meus olhos
tão frios dantes de gelarem nuvens
- não serás tu dentro de mim
a espreitar em labareda para a vida?
E esta cidade a arder sonâmbula
que trago por ti no coração
onde dantes só cabia o universo
- não serás tu no espelho de outra voz
a escutar a própria primavera?
E não serás tu também a bruma viva
que se esfarrapou nos dedos destas mãos
onde o espanto de espuma se fez corpo?
E ouve, ouve...
Este meu voar de ternura,
estas aves nos pés,
este querer beijar-te, não em ti apenas,
mas nas pedras, nas silvas, na poeira
e no vento das mil bocas de fantasmas
- não serás tu ainda, sempre tu,
na tua ira dum amor de excesso,
a amar por mim em ti
escondida por dentro dos meus olhos?
(José Gomes Ferreira, in Poesia IV)
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