Revolta dentro do peito
Por aquilo que não fiz
Por aquilo que não fiz
E que eu devia ter feito.
Revolta dentro de mim
Por tropeçar em mim mesmo,
Por não saber onde estou...
Por caminhar tanto a esmo
Que trago os passos perdidos
Nos próprios passos que dou.
Revolta desde menino
Por tantas horas perdidas
A procurar o Destino
Nas sombras doutros destinos.
Revolta crua e sem fim...
Tantos pedaços de mim
Que destrocei sem saber!...
Revolta, sempre revolta,
Por um pedaço de céu
Que não me dão... e era meu...
Revolta, funda revolta,
Dentes rangendo na sombra.
Do fundo de um corredor
Crescem gemidos de dor
Dos escravos meus avós...
Grilhetas prendendo os pés,
Prendendo também a voz...
E o sangue formou um rio
E o rio correu para o mar
E foi chorar, noite e dia,
Nas praias de todo o mundo.
Revolta dentro de nós,
Revolta arrastando os passos...
Vozes mancharam-me a voz,
Braços prenderam os braços...
Voo desfeito no berço...
Revolta crua e sem fim,
Revolta triste e infeliz,
Por trazer esta revolta
Fechada dentro de mim,
Num verso que nunca fiz.
(Aguinaldo Fonseca, in Linha do Horizonte)
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